quarta-feira, 20 de maio de 2009

Poucos podem dizer: Fui amigo de um Super-Heroi!

Quando o Celso, amigo de eras incontaveis, guro espiritual, dono de uma das mentes mais criativas, um valoroso companheiro de criação, alem de minha inspiração para o personagem de quadrinhos SAGAS (Ilustração ao lado) me mostrou um cartão de visita do lendario Capitão 7... não acreditei.
Já conhecia a empresa Capitão Sete, que produzia fantasias infantis e era antiga cliente da Festcolor, mas não sabia que o heroi estampado nos anuncios era real. Como poderia imaginar que o escudo que me defendia das guerras de massinha na Festcolor iria estar tão presente em meu futuro.
Nunca imaginei que meu caminho iria se encontrar com o de Ayres Campos, o lendário Capitão Sete, o primeiro super-herói brasileiro que manteve um programa com suas aventuras espaciais no canal 7 de São Paulo, de 1954 a 1966.
Ayres Campos queria voltar com suas historias em quadrinhos que fizeram sucesso nas decadas de 60 e 70, e para isso procurava um desenhista.

E lá estava eu escutando um senhor que me lembrava fisicamente John Wayne, que me revelava histórias dos bastidores da televisão e aventuras arriscadas de um administrador, cantor, ator, atleta e lutador de luta-livre.
O mais perto que se pode chegar do Super-Homem sem voar, era conhecer Ayres Campos. Não sei explicar o porque Ayres ficou empolgado com meu traço (uma vez que meus rabiscos não podiam ser comparados com as feras e as lendas vivas da HQ nacional que já tinham desenhado o heroi) e ele me incentivava a produzir a "Volta do Capitão Sete". Dava ideias, aprovava e desaprovava mudanças e sempre pedia para voltar com mais material.
Idas e vindas ao seu Q.G. secreto (não tão secreto pois ele morava no Brooklin, e mantinha o escudo com seu logotipo em bronze na fachada da casa) comecei a ficar desgostoso com a demora dele em começar o projeto.
"Artista não negocia" era o lema que imperava e precisava de um fator de decisão, alguem que colocasse logo as cartas na mesa e me tirasse daquele impasse, apelei para o único capaz de vender chumbo quente em copo de vidro*: Osvaldenir Stocker.
Mais do que cartas, Stocker tirou da manga e colocou na mesa a Voga Comunicação, editora e agencia criada para publicar as futuras H.Q.s do Capitão 7 e ainda produzir anuncios para o crescente e familiar mercado de presentes.
Ayres Campos me lembrava todos os dias o propósito da Voga Comunicação - sua História em Quadrinhos -
Cada quadrinho desenhado era aprovado pelo velho Capitão, o que me força aqui a deixar um adendo...


- Ayres era o detentor dos direitos do Capitão 7 desde que a serie de T.V. foi cancelada, tanto que fez o personagem enveredar por quadrinhos, luta-livre e por fim, carro chefe de fantasias infantis. Porem nos antigos quadrinhos o nome da identidade secreta do personagem era Carlos, que se transformava no Capitão 7. Ele confessava que nunca gostou disso, para ele o personagem não era fruto de ficção e ele nem mesmo conhecia um Carlos. Na reformulação, Ayres fez questão de esquecer a antiga identidade, dali para frente, Ayres Campos era o Capitão 7 e pronto. Os poderes do personagem eram oriundos do setimo planeta, bem parecidos com os poderes do Super-Homem e argumentos que pareciam tirados de Flash Gordon, Fantasma e Mandrake. Essa falta de identidade e com muitos poderes rebuscados, fez com que eu e o Celso(o SAGAS), reinventassemos os poderes do Capitão 7.
Ayres tinha uma mania, mostrava a todos um anel de ouro com o logotipo do Capitão 7 cravejado com sete diamantes, um anel que já tinha virado lenda mas que nunca existiu na série ou nos quadrinhos antigos, mesmo porque foi feito sob encomenda depois do sucesso do personagem. Por que não juntar esse já famoso anel com os poderes do novo Capitão? E isso foi feito. Agora, cada pedra tinha um poder que funcionava por sete minutos. Como o logotipo era repleto de elementos, e a ideia de reformular o logotipo para Ayres parecia soar como um pecado mortal, optei por explicar que cada desenho no logotipo representava um poder. Ele abraçou tanto essa ideia, que depois dizia nas entrevistas que o Capitão na serie de tv, tinha sete poderes que vinham do anel.

Ao lado, projeto da capa e a contra-capa que foi refeita com o rosto de Ayres Campos, que insistia nisso.








Matéria na Folha de São Paulo, onde Ayres Campos fazia o que
sabia fazer de melhor, brilhava.

Como o trabalho na Voga as vezes ia até tarde, acostumei com ele vindo a noite e contando suas aventuras, querendo ver o progresso de sua história. Depois, empolgado por algumas entrevistas, ensaiava seus cantos (É! Ele cantava) para se apresentar em alguma já agendada entrevista de TV.
Com a saida da sociedade de Stocker, nosso diretor comercial, minha arte migrou da mesa de desenho para a mesa de negociação, me obrigando a elaborar novos projetos, captar clientes e fazer apresentações para grandes agencias, empurrando cada vez mais para curtos periodos a razão inicial da Voga.
Na Voga, ideia produzida de Stocker, criamos o que hoje é considerada um marco histórico na cidade de Taboão da Serra, a primeira revista de Taboão e dirigida ao esporte amador da região, SPORT NEWS com seus 10.000 exemplares distribuidos em gremios,sedes de times, prefeituras e por ai a fora.



Criamos tambem a Lar&Cia, revista dirigida a condominios com circulação no Brooklin e região, atingindo um mercado pouco explorado e crescente, chegando a 20.000 exemplares. Seu formato inovador e seu publico alvo, foi um sucesso copiado e renovado por outras editoras.
Se havia a preocupação de todos com essas publicações, "a volta do Capitão 7" não detinha tanto a atenção, que acabou ficando entre eu e Ayres.
Apos minhas apresentações em agencias, o mercado foi invadido por super-herois de empresas, minha visão ainda não alcançava que era mais lucrativo criar um heroi próprio do que investir em um.
Quando fundei a Voga Comunicação eu era um artista dedicado esperando para criar o melhor para meu cliente, e quando a deixei, tinha me tornado um profissional mais completo, aprendi que primeiro deve-se buscar o cliente para só depois criar o melhor para ele.

Algumas das campanhas para a Yucca e Koraicho, assinadas pela Voga.
*vender chumbo quente em copo de vidro - Ayres dizia isso de Stocker.
Em tempo, teminei a historia antes de deixar a Voga, e os originais ficaram com Ayres Campos, não sei se serviu de base para outras que foram produzidas posteriormente, o que sei é que a história concebida para sua volta foi criada com ele, e acredito, foi a que mais se aproximou do que Ayres Campos desejava para o seu personagem.

Sem desmerecer o trabalho de ninguem, devo deixar registrado aqui que certos projetos parecem gritar por uma determinada pessoa, "A volta do Capitão 7" era talhado para Julio Henrique Darde Junior, ex-diretor da Aika Propaganda e da Art-Pro-Market, um visionario que eu tenho certeza, adoraria resgatar e trazer de volta o Capitão 7 com todo o glamour que personagem merecia.

2 comentários:

JÚLIO DARDE disse...

ANDERSON,

ACABARAM DE MANDAR ISSO PARA MIM.
OBRIGADO PELA DEFERÊNCIA.
ADORARIA FALAR COM VOCÊ NOVAMENTE, MEU E-MAIL É: JHDARDE@IG.COM.BR
CUIDE-SE BEM, GAROTO.
ABRAÇOS.

Anônimo disse...

Que saudades do Júlio. Sumiu